segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Arquitetos sem talento

Pois amigos, visitei a mostra Casa e Cia. em Xangrilá, montada em um condomínio de praia. É de dar dó a falta de criatividade e de brasilidade dos jovens profissionais responsáveis pelos projetos apresentados. A começar pela arquitetura, quase indigente. São sobrados geminados, sem garagem, com aposentos pequeníssimos e total falta de privacidade: os pátios internos, enfeitados com spas, são visíveis para todos os vizinhos. Enfim, descrevendo em uma só frase: são favelas de luxo. Os decoradores se esforçaram para disfarçar a falta de espaço com móveis adequados, mas a sensação é claustrofóbica. Em um dos quartos de casal havia apenas um palmo de distância entre a cama e a parede. Outro projeto oferecia "dois quartos e meio", e o meio-quarto era um corredor entre dois aposentos. Mas o mais entristecedor era a inspiração para os projetos de decoração: México, Espanha, Grécia, França. Não havia nenhum aposento com sotaque brasileiro. Não sei se é um desejo inconsciente dos projetistas de dar o fora do Brasil, ou se é breguice mesmo, mas eles preferiram macaquear os estilos estrangeiros a exercer sua criatividade com o riquíssimo material decorativo que o Brasil tem. Lamentável. Beijão da Jô

Viajar é simples

Pois amigos, eu acho que para ser turista é preciso, antes de mais nada, ter espírito cigano, isto é, saber que vai renunciar a alguns confortos domésticos. Aliás, quem valoriza muito o conforto nem devia sair de casa. Um verdadeiro viajante sabe que só precisa da própria pele, então, a sua mala é de uma simplicidade franciscana. Ninguém faz turismo para desfilar moda. O mais importante é conhecer lugares novos, pessoas e hábitos diferentes, e adaptar-se a eles. Esse é o encanto maior de todas as viagens. Infelizmente já cruzei com várias espécies de turistas sem vocação, e reparei que entre eles dois tipos se destacam: o comprador - aquele que compra tudo o que vê, entupindo o bagageiro do ônibus com seus badulaques - e o chorão - aquele que reclama de tudo: o colchão é duro, o ônibus balança muito, a guia não lhe dá atenção, a comida é ruim, as cidades só têm prédios velhos (referindo-se à Europa!), ninguém fala a língua dele, tudo é muito caro, muito calor, ou frio, etc. É muito fácil conhecer um turista sem vocação: é só olhar sua mala. Quanto maior a bagagem, menor a vocação turística. A vida é uma grande viagem. Então, quanto menos pesarmos, mais longe iremos. Beijão da Jô

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Mudou o mundo?

Pois amigos, sempre achei que o pior sinal de velhice era a crítica às atitudes dos mais jovens, até que me peguei criticando intimamente o comportamento de alguns rapazes em uma festa. Levei um susto daqueles! Por que eu os criticava? O que havia de realmente estranho no comportamento deles? Em qual esquina eles teriam se desviado do meu pensamento? Aquele sentimento estranho me acompanhou durante algum tempo. Mais do que a idade, é o sentimento que marca a velhice. Criticamos porque não podemos acompanhá-los em seus folguedos, ou porque eles realmente ofendem nossos sentimentos e nossos valores? Sei lá. Mas me lembrei de um pensamento de A. Schoppenhauer sobre o bem e o mal: as coisas não ficam piores ou melhores, apenas mudam. Acho que é isso mesmo. Os jovens não são piores ou melhores do que nós, são apenas diferentes. O sentido de "bom" ou "mau" é criado apenas por nossa visão dos fatos. Não é a realidade. Começar a entender que as coisas mudam, assim como nós também mudamos, é meio caminho andado para manter a juventude do espírito.